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Coluna do Capelli: Empolgante, emocionante, e isso basta

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Mensagem  Diehl Ter Jun 12, 2012 3:08 pm

Praticamente todo mundo que me lê por aqui, no blog, no Facebook ou no Twitter sabe que acompanho F1 desde moleque. E eu fui um moleque precoce que, com um perfil levemente obsessivo, começou se debruçar sobre tudo que envolvia este esporte que me empolgava. Assim, desde cedo me tornei um sujeito chato, daqueles que não lembra a cor da cueca que está usando mas que descreve em detalhes a cor da McLaren de Keke Rosberg no GP de Portugal de 1986 (sim, era amarela).

Peço desculpas por este preâmbulo egotrip, mas ele serve para explicar que não é exagero dizer que estou nessa parada há mais de 25 anos, embora ainda não tenha nem 35 de idade. É claro que, tão jovem, não havia como perceber determinados aspectos do esporte. Com dez anos, não tinha a mesma compreensão do mundo que tenho hoje (embora naquela época fosse bem mais divertido), então é lógico que recordações daquela época tendam a ser mais falhas no aspecto lógico. Porém, por outro lado, são mais carregadas de emoção e, até, de sensibilidade. Colocando as duas coisas na balança, avaliando daqui e dali, não hesito em afirmar (pausa dramática): 2012 é a mais empolgante temporada de F1 que já acompanhei.

Tudo bem, podem me chamar de exagerado, deslumbrado e o escambau. Mas tá divertido pra caramba. Olhando para o passado recente, tivemos outros excelentes campeonatos, como 2007 (decidido de forma imprevisível na última corrida) e 2008 (decidido de forma dramática na última curva, literalmente). Foram temporadas incríveis na tabela de pontuação, mas com muitas corridas chatas, poucas ultrapassagens, brigas limitadas, poucas variáveis. Por outro lado, 2011 foi o inverso: um ano de corridas memoráveis, muitas ultrapassagens e ação na pista, porém com um campeonato chocho, com Sebastian Vettel ganhando um milhão de corridas, disparando na frente e todo mundo sabendo que ele seria campeão desde a segunda ou terceira prova.

Coluna do Capelli: Empolgante, emocionante, e isso basta Canada-Red-Bull-Vettel-Largada-corrida-2012

A temporada de 2012 consegue juntar o melhor de todas elas. O campeonato está absolutamente embolado, com inéditos sete diferentes vencedores nas sete primeiras corridas, e o melhor: com provas emocionantes. Tudo bem, o GP do Canadá esteve chato no seu decorrer (Jacques Villeneuve foi crucificado, todavia tinha razão no que falava naquele momento da prova), mas ganhou muita emoção no final. E também é um pouco demais exigir emoção do começo ao fim, o tempo todo, em todas as corridas. Não existe isso, nunca existiu.

Existe uma frente de pensamento que diz que tudo bem, as corridas estão legais, mas tudo na base do artificialismo. São ultrapassagens movidas a KERS, asa móvel e pneus que se desmancham de forma imprevisível. Assim, a categoria estaria nivelada por baixo. Não é mentira, mas também não é verdade que no passado as coisas eram muito diferentes. Numa final de campeonato tida como memorável, em 1986, o fator determinante do título foram justamente os pneus. A Goodyear errou nos compostos que levou para a Austrália, os pneus se desgastaram muito mais do que o previsto e Nigel Mansell perdeu o título e quase sofreu um grave acidente com um pneu explodindo em plena reta. Alain Prost, que tinha tido um pneu furado logo no começo da corrida, ficou com a vitória e com o caneco justamente por ter feito a estratégia certa, por acaso. Foi nivelamento por baixo? Claro que não.

Naquela mesma temporada, não era permitido o reabastecimento e os tanques de combustível haviam sido limitados em volume, justamente para que os motores turbo não pudessem funcionar a pleno e isso nivelasse mais as equipes. Tão artificial quanto os motores congelados de 2012. Em razão destes tanques menores, os pilotos precisavam dosar o pé no acelerador, senão ficariam sem gasolina muito antes do final. Poupar combustível era a ordem do dia, assim como poupar pneus é o mantra de 2012. Muito diferente? Não. Assim como era frequente as equipes errarem o cálculo de combustível e os pilotos ficarem parados na pista sem gasolina na última volta, perdendo vitórias e pontos preciosos. Hoje, os pilotos se arrastam sem pneus por erro de equipe e perdem vitórias (oi, Alonso!). É a mesma coisa. Se hoje passar na reta é fácil por causa da asa móvel, naquela época era só aumentar a pressão do turbo e passar voando. Dá na mesma.

O problema é que, por memória afetiva, ou por falsas lembranças daquilo que só se ouviu falar, existe uma tendência em se acreditar que tudo no passado era melhor. Balela. Havia coisas melhores, mas também outras piores, assim é a vida. Pode até haver um certo artificialismo no regulamento e nos recursos para facilitar as ultrapassagens, como também havia no passado. O grande acerto da FIA com a nova regulamentação de pneus é justamente fazer com que as equipes, ainda que tenham carros com rendimento parecido, apresentem picos de performance em diferentes momentos da corrida. É isso que provoca emoção, ultrapassagens, brigas. Não há como fazer uma corrida cheia de variáveis se todos os carros andam iguais o tempo todo. Nos ovais norte-americanos, o recurso artificial utilizado para trazer emoções até o fim é juntar todo mundo com quantas bandeiras amarelas forem necessárias. Na F1 de 2012, é fazer compostos de pneus indecifráveis, que variam muito de desempenho com pequenas variações de ambiente.

É artificial ganhar uma corrida porque o piloto da frente ficou sem borracha? Pode ser, mas é tão artificial quanto ganhar porque o cara da frente ficou sem gasolina, ou porque apareceu uma bandeira amarela bem na hora em que isso lhe favoreceria. No fim das contas, não dá pra exigir no automobilismo o mesmo rigor esportivo de um jogo de tênis, em que uma raquete e uma bolinha bastam para definir quem é o melhor. Corridas são complexas, nem sempre justas, e quase nunca de fato esportivas.

Sim, sou um entusiasta da F1 em 2012. E prefiro me divertir assistindo corridas assim do que me refestelando com lembranças artificiais. Artificial por artificial, o que estamos vendo hoje é uma realidade. Não é nostalgia barata. É empolgante, é emocionante. E isso me basta.








Fonte: Blog do Capelli.
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Mensagem  rafavivax Ter Jun 12, 2012 6:24 pm

Capelli manda bem demais no blog dele!! Muito bom com as palavras!!
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