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Entrevista com Taki Inoue – Nunca foi tão difícil pilotar na Fórmula 1

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Mensagem  Diehl Sáb Out 20, 2012 6:08 pm

Entrevista com Taki Inoue – Nunca foi tão difícil pilotar na Fórmula 1 Inoue_abre
Ex-piloto reside em Mônaco e assiste corridas apenas na TV agora. Foto Arquivo Pessoal

Takachiho (Taki) Inoue, japonês nascido em Kobe no ano de 1963, vivenciou a Fórmula 1 da forma mais difícil possível na década de 1990, pilotando para as falidas Simtek e Footwork, entre 1994 e 1995. O Pitlane teve a oportunidade de fazer sua primeira entrevista internacional exatamente com este personagem diferente de uma outra época do automobilismo, que conversou com o blog diretamente de Mônaco, onde mora há 18 anos. Segue apaixonado por automobilismo, fanático por Ayrton Senna e James Hunt, como todo japonês, mas não frequenta autódromos desde 1999. A partir da conversa, é hora de revisar um pouco a história e dar algum crédito para o piloto oriental.

Depois de lutar por cinco anos para superar o desapontamento de ser “aposentado” da Fórmula 1, Taki hoje adotou um personagem bem-humorado e sincero na internet para analisar de forma ácida os acontecimentos do automobilismo. Gosta também de ironizar o episódio no qual foi atropelado durante o GP da Hungria de 1995, posando para fotos com seu inesgotável extintor de incêndio.

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Estreou com a Simtek no GP do Japão, mas foi pego pelo temporal e rodou

Numa época em que os japoneses eram conhecidos apenas por trapalhadas no volante, porém, ele ganhou fama exatamente por acidentes bizarros na temporada de 1995 e que, na essência, não foram culpa dele próprio. Pilotando (e pagando as contas) da decadente Footwork, ele teve a infâmia de ter seu carro atingido por um veículo de resgate quando era rebocado em Mônaco. No mesmo ano, ainda foi atropelado por um carro médico quando tentava apagar um princípio de incêndio em seu Footwork.

“No money, no drive”, esta expressão foi ouvida muitas vezes pelo piloto japonês. A última delas da equipe Minardi, no início de 1996, quando depois de passar o inverno Europeu montando um pacote milionário viu um patrocinador desistir na última hora, quando já estava se preparando para a apresentação do time. Era a aposentadoria de um tipo de piloto mal-visto na década de 90, mas que agora está cada vez mais em moda na Fórmula 1: o pagante.

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Salto de qualidade na Footwork? Até autógrafos passou a dar pelo menos...

Pedindo sempre desculpas pelo inglês-nipônico, Taki fez revelações de bastidores que permitem analisar sob nova perspectiva tantas críticas feitas a ele próprio nas 18 corridas que disputou. “Honestamente, era uma estratégia muito dura. Eu trazia o dinheiro de patrocinadores para alugar o carro, sem nada em troca”, salientou sobre o contato com as equipes. Enquanto atualmente os chamados pay-drivers são até cortejados como Pastor Maldonado na Williams, nos anos 90 eram apenas “fontes excêntricas” de dinheiro. A relação de Taki com o projetista e chefe de engenheiros da Footwork na época é um bom exemplo. “Alan Jenkins nunca falou comigo durante o campeonato. Mudar o acerto do carro? Ele nunca perguntou se eu queria alterar o setup”, enfatizou o piloto.

Novato na categoria e tentando aprender o que fazer nos anos que tiveram os carros mais instáveis da F-1 – 94-95 por mudanças de regras e eliminação dos sistemas eletrônicos -, o japonês não fez um teste digno de nota antes de estrear. “Apenas pilote, nada de testes. Pegar ou largar. Fiz apenas oito voltas em Silverstone (incluindo volta de saída e retorno) até que a quilometragem máxima do motor Hart, velho, fosse atingida”, contou Taki.

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Oito voltas de "teste" foi tudo que Inoue teve para pegar a mão da F1

Alguém realmente esperava que ele não cometesse erros e andasse no mesmo ritmo do companheiro de equipe, Gianni Morbidelli, com cinco anos de experiência na categoria? Ainda assim, chegou a primeira corrida de 1995, em Interlagos, e o japa cravou a 21a. posição no grid de largada, confortavelmente dentro dos 107% da pole para largar. Numa corrida acidentada, uma quebra de motor Hart impediu que completasse em décimo lugar a prova.

Nada mau para um cara que não teve qualquer experiência no kart e tentou a sorte na Europa diretamente na Formula Ford, em 1988. Extremamente sincero, Taki afirmou que o sonho de pilotar um F-1 surgiu ainda aos 3 anos de idade, quando viu em um livro o carro antigo da Honda na categoria. “Não era muito corajoso”, reconheceu, porém, e por isso o começo no esporte foi adiado por longo tempo, sem passar pelo kart.

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F3000 com a Supernova foi uma aprendizagem na toca dos leões

A inspiração para sentar no cockpit e acelerar forte veio, contudo, em 1988, quando acompanhou o GP da Inglaterra de Fórmula 1 e assistiu a uma vitória magistral de Ayrton Senna. “Estava na primeira curva, de alta velocidade, e chovia como normalmente acontece em Silverstone”, relembrou. “Na minha frente Michele Alboreto rodou com a Ferrari e veio na direção onde estava. Lembro que foi muito assustador, aquele som alto e a possibilidade de um grande acidente com o fórmula!”

Medo ou não, fato é que nosso amigo Taki fez uma temporada britânica na Fórmula Ford, seguida por uma passagem na Fórmula 3 japonesa e mais um ano de Fórmula 3000 antes de tentar a sua sorte, e torrar muitos dólares, na F-1. Com a raquítica Simtek, a estreia em 1994 (ano da morte do ídolo) durou três voltas, quando seu carro aquaplanou em um temporal típico de Suzuka, no Japão.

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Na chuva em Spa, foi muito mais rápido que o companheiro Max Papis

Na Footwork, mesmo sem ninguém perguntar o que achava que podia melhorar no carro, o japonês mostrou clara evolução a cada prova. Exatamente a chuva que testou sua coragem em 1988 foi espectadora de uma de suas melhores corridas em 1995. No desafiador GP da Bélgica, Taki fez o 18º tempo, na frente do seu colega de equipe Max Papis e, quando a chuvarada se abateu sobre o circuito, guiou de forma constante e sem sustos para completar na 12ª posição. A corrida seguinte, na Itália, seria ainda melhor: oitavo lugar. Na contagem de pontos moderna da F-1, faria três pontos.

Pontos na temporada de estreia! Fosse hoje e o Galvão Bueno da Fuji TV estaria gritando emocionado com o resultado. Naquele tempo, contudo, seis faziam pontos e a matemática não ajudou. E ainda ocorreram os acidentes sem noção. Em Mônaco, Taki decidiu aguardar dentro do carro o reboque até os boxes para poder seguir nos treinos (importante, já que ninguém deixava ele testar fora do fim de semana de prova). Enquanto segurava o tirante para ser rebocado, o carro dos fiscais de prova colidiu com a Footwork, que capotou contra o guard-rail. O piloto foi ejetado para fora do carro, felizmente de capacete, e não sofreu lesões. Tivesse ficado ali dentro, porém, o resultado seria grave, pois o santantônio da Footwork quebrou, e, sem HANS, uma fratura cervical seria quase certa.

Na Hungria (vídeo abaixo), o motor do carro abriu o bico e, já que pagava as contas em caso de danos mecânicos, Taki começou a sinalizar freneticamente para os fiscais apagarem o princípio de incêndio. Sem ninguém se mexer, ele mesmo pegou o extintor. Ao se virar, porém, o carro médico colidiu contra ele, na perna esquerda. Em uma cena digna de comédia pastelão, o extintor disparou, o japonês cambaleou dois passinhos para a direita, e desabou no chão inconsciente. No hospital, sem maiores repercussões físicas. As consequências financeiras porém…


“Sobre o caso de Mônaco, sei que a equipe recebeu uma grande quantia de compensação da FIA pelo acidente, mas me mandaram ficar quieto para manter meu lugar no time”, lembrou Inoue. “Era um absurdo total, já que era meu dinheiro perdido, mas aceitei”, continuou. “Na Hungria foi pior. Uma semana depois do acidente, recebi a conta do hospital em Budapeste. A equipe simplesmente não pagou!”, revelou o japonês. “Eles continuaram me mandando a conta por um ano, mas nunca paguei, nem o time que já fechou.” Mazelas de uma F-1 que parece impossível nos dias de hoje, mas que via equipes sem as mínimas condições se arrastarem no fundo do grid há menos de duas décadas.

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Taki fazendo mais um truque com seu extintor de incêndio mortífero

Sem equipe, desacreditado pela saída do patrocinador pessoal, Taki avalia que “despencou” da F-1. “Ainda tentei me encaixar em corridas de GT, mas descobri que não era o que desejava pilotar, além de ser ainda mais difícil conseguir patrocinadores para as categorias de base”, relatou. Ele ainda pensou em se mudar para a Fórmula Indy, refúgio clássico daquela década, mas foi extremamente franco sobre sua experiência com os ovais: “Sem chances na Indy. Eu simplesmente não tinha os culhões necessários. Quando participei de testes privados para as 500 Milhas de Indianápolis eu basicamente ‘me borrei’.”

A principal “herança” da Fórmula 1 para Taki segue o local de residência: Mônaco, onde estabeleceu sua casa para evitar cobranças de impostos mais altas enquanto juntava dinheiro de patrocinadores para pagar a Footwork. Reside no principado nos últimos 18 anos, sem qualquer emprego fixo. “Procuro por um trabalho desde 1996, no momento estou sem ocupação. Já mostrei o caminho para alguns pilotos chegarem à F-1, mas não gerencio a carreira de nenhum”, explicou. Ele até brinca com a situação, citando que “pilotos fracassados da F-1 acabam como chofers em Monte Carlo. Nunca mais foi a grandes prêmios, nem os do seu país. “Assisto na TV, pois nunca me conseguiram um passe sequer para o paddock.”



Fonte: Blog Pitlane.
Diehl
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